Construções Eternas

Construções Eternas

Paulo Pinhal



Tem um ditado popular que diz “Parece Obra de Igreja”. Vamos tentar entender este ditado. As igrejas eram construídas com os donativos de seus fieis, e as obras pelo pouco recurso financeiro levavam anos em construção e muitas até hoje não terminaram. Um exemplo clássico é a Sagrada Família em Barcelona, Espanha, obra do arquiteto Antoni Gaudí, que teve inicio em 1882 e a previsão para o seu termino é em 2025. Mesmo sem que esta importante obra esteja terminada, a Unesco em 2005, tombou com patrimônio da humanidade.

A expressão do ditado é emprestada das construções faraônicas para ser aplicadas em obras de pequeno porte, cuja sua paralisação esta atrelada a diversos fatores quer seja de problemas financeiros, mudança de programa de necessidades ou da própria infraestrutura local.

Porque existem tantas obras residenciais pela nossa cidade ainda em fase de construção, mas já ocupada pelos seus proprietários?

Para esta pergunta temos várias respostas: Sair do aluguel, acomodar a família em espaços projetados para ela, acompanhar o acabamento da obra de perto para controlar a qualidade, localização do imóvel favorável ao trabalho e escolas da família, sendo o principal é a falta de recursos para o seu término.

Muitas famílias se sujeitam a ocupar os espaços ainda sem acabamentos, sujeitos a poeiras, cheiros de cimento, vãos entre paredes e sacrifícios familiares para que se sintam como que tomando posse dos seus sonhos.

Este fato acontece por toda a cidade, inclusive nos condomínios existentes na região, que mesmo com clausula em contrato que estabelece que não se pode morar sem o devido habite-se, encontramos muitas famílias vivendo nestas condições.

Para entender este universo é preciso começar pelo sonho da casa própria e da casa dos sonhos. O proprietário quando aparece no escritório de arquitetura, nem sempre é sincero com relação as suas necessidades que muitas vezes se confundem com os seus sonhos.

Lembro de um cliente que apareceu solicitando um projeto com um programa de necessidades extenso, onde constavam suítes, piscinas, saunas etc.., Na saída do escritório acabei tendo que ajuda-lo a empurrar seu único carro velho para pegar no tranco. É lógico que no discurso dele era baseado em sonho e não em realidade.

Cabe ao arquiteto desde do nascimento do projeto ter a percepção de que o projeto proposto para o seu cliente não virará uma obra que parecerá com obra de igreja. Pois o papel aceita tudo e o que diferencia de um projeto exequível é exatamente focar nas atuais necessidades do cliente e em seu potencial financeiro, quer seja de recursos próprios ou de empréstimos.

O que não deve ser admissível é o arquiteto elaborar projetos maravilhosos com reprodução gráficas fantásticas, que nunca sairão do papel e oferece-los para o cliente que não tem potencial para transforma-lo em obra.

Para nós que somos arquitetos, é um exercício fantástico conciliar no ato de projetar as questões de atender as necessidades dos clientes dentro dos seus recursos, procurando tornar a obra acabada uma realidade.

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